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Ainda de acordo com o chefe de gabinete, se o Hospital de Clínicas acatar a sentença, apesar de trabalhar com 100% dos leitos pelo SUS, o prejuízo será na redução do atendimento, por que o hospital terá que cortar gastos, o que representa a perda de 34% dos leitos. Porém, uma das procuradoras responsáveis pela ação, Suzete Braganholo contesta. “Nós entendemos que o Hospital de Clínicas já recebe incentivos para se tornar 100% SUS e entendemos que no Hospital de Clínicas o privado não sustenta o público”, explica Suzete.
A sentença deve ser dada nos próximos dias, pela juíza da primeira vara federal de Porto Alegre, Maria Helena Marques de Castro. No total o hospital tem disponíveis 792 leitos. 681 são do SUS, 102 de convênios e privados e os outros nove leitos são destinados a pesquisas.
Não faz muito, nem uma semana, foi no sábado (12), que promotores e procuradores de justiça elegeram a lista tríplice. Ou seja, os três indicados para o cargo de Procurador-Geral de Justiça do Rio Grande do Sul. Quem fará a escolha é o governador Tarso Genro. Os nomes já foram enviados. Amanhã ou segunda-feira um dos três mais votados será o chefe do Ministério Público nos próximos dois anos. A atual ocupante do cargo, Simone Mariano da Rocha, recebeu 426 votos. Eduardo de Lima Veiga ficou com 305 e Paulo Fernando dos Santos Vidal, com 79 votos. No entanto, 647 dos 676 procuradores e promotores de Justiça que compõem o colégio eleitoral da Instituição votaram. Simone Mariano da Rocha atribuiu o índice de 65,8% de aceitação ao trabalho de unificação da classe.
Bom, mas o cerne da questão são os fatos do passado não é mesmo? Por que afinal de contas quem bate não se lembra e quem apanha não esquece. Então aí vai... Você recorda quem foi Marcelo Cavalcante, de 41 anos, ex-representante do governo Yeda Crusius em Brasília? Aquele que foi sepultado no início da tarde de quarta-feira, no dia 18 de fevereiro de 2009, no Cemitério Campo da Esperança, em Brasília... Não? Don't worry! O Compasso Político tem esse objetivo, também, de relembrar!
O ex-representante de Yeda Crusius estava desaparecido desde o dia 14 de fevereiro de 2009, quando foi encontrado morto no Lago Paranoá, junto a uma das pilastras da ponte Juscelino Kubitschek, em Brasília. Conforme as investigações da Polícia Civil, os indícios apontam suicídio.
E de Eliseu Santos? Pois é.. Ele também morreu... quase um ano após Marcelo Cavalcante. O assassinato aconteceu na noite de sexta-feira, dia 28 de fevereiro de 2010. O médico e político Eliseu Santos foi baleado dentro de seu carro, na rua Hoffman, quase esquina com a avenida Cristóvão Colombo, no bairro Floresta, de Porto Alegre. Relatos de testemunhas, afirmaram que quatro homens teriam descido de um Vectra e disparado contra o ex-secretário. Moradores disseram que ouviram sete tiros. Entretanto, conforme informações preliminares, Santos teria sido alvejado por três balas. Em seguida, os criminosos retornaram ao veículo e fugiram. O crime aconteceu a cerca de 500 metros do ponto onde foi assassinado o médico Marco Antônio Becker, em dezembro de 2008.
A governadora Yeda Crusius finalizou a cerimônia que antecedeu o cortejo fúnebre e prestou as honras ao secretário. Yeda disse: falar sobre o Eliseu é falar sobre o seu caminho de servir. Melhorar, este sempre foi o seu objetivo. As palavras de conforto que ele pregava são ditas agora para tornar a despedida mais fácil. Ele viveu por uma causa, por um propósito. E sempre se fez presente quando chamado. Uma figura enérgica, um homem combativo, dedicado às grandes causas do nosso Estado.
Só para relembrar... O crime aconteceu um dia depois de Eliseu Santos depor na Polícia Federal que investigava o desvio de recursos do Programa Saúde da Família em Porto Alegre (Operação Pathos). Em maio de 2009, Santos esteve envolvido em outra polêmica envolvendo sua gestão na Secretaria da Saúde de Porto Alegre. Ele teria recebido ameaças de morte neste período.
Esses foram os dois personagens que usei para falar de dois dos indicados na lista tríplice. A Simone Mariano da Rocha mexeu e remexeu os pauzinhos para safar Yeda Crusius de umas boas pás de encrencas... Uma bem grande foi em 17 de agosto de 2009, dia em que a governadora Yeda Crusius ainda estava com o depoimento marcado para o dia seguinte (18), em Porto Alegre, como testemunha de defesa do ex-presidente do Detran, Flávio Vaz Netto, em função da fraude de 44 milhões de reais. Mas, conforme o advogado de Yeda, Fábio Medina, a governadora não iria mais depor. A juíza da 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria, Simone Barbizan Fortes aceitou a substituição de testemunha a pedido do advogado de Vaz Netto, Paulo Oliveira que não tinha mais interesse em colher o depoimento de Yeda.
No mesmo dia 17, o advogado enviou uma petição indicando um amigo pessoal de Vaz Netto, Flávio Saldanha, para depor. Para o advogado de defesa, como a governadora estava sendo investigada pela Procuradoria-geral da República e com a ação de improbidade administrativa pelo Ministério Público, o depoimento dela perderia a credibilidade no processo penal. "A governadora deixa de ter a posição de testemunha e passa ter uma posição de investigada".
Os deputados da oposição pediram na época, a reabertura da investigação sobre a compra da casa da governadora Yeda Crusius à procuradora-geral de Justiça do Rio Grande do Sul, Simone Mariano Rocha, que aliviou logo em seguida a situação.
Já Eduardo de Lima Veiga é assim-assim com o promotor, ex-secretário estadual do meio ambiente e ex-titular do Gabinete de Transparência do Governo Yeda, Carlos Otaviano Brenner de Moraes. O anúncio foi feito pela governadora da época, em 20 de outubro de 2008, durante a Festa Nacional da Música, no Hotel Laje de Pedra, em Canela. Ou seja, um promotor na secretaria estadual do meio ambiente? Feia a coisa né? Chega a feder!
Historicamente, os governadores escolhem o candidato mais votado, mas não existe essa certeza na atual eleição. Tarso Genro tinha o prazo de 15 dias para definir e nomear o futuro titular do cargo. A única certeza é a posse do novo Chefe do Ministério Público gaúcho que será no dia 4 de abril.
Confira a segunda lista, depois abaixo a primeira lista divulgada pelo promotor eleitoral Amilcar Macedo, que investigava o uso irregular do Sistema de Consultas Integradas do RS por integrantes do alto escalão do Palácio Piratini, na época de Yeda Crusius. Vale lembrar que a função específica da Casa Militar e do Gabinete de Segurança Institucional do governo é manter a integridade da governadora:
Abaixo, a segunda lista, divulgada em 21 de setembro de 2010:
- Adriano dos Santos Raldi (procurador federal, um dos que ajuizou, em agosto de 2009, ação de improbidade administrativa contra Yeda Crusius e membros do seu governo)
- Bayard Fischer (médico, suspeito de mandar matar o vice-presidente do Conselho Regional de Medicina do RS, Marco Antonio Becker, em dezembro de 2008)
- Bárbara Margareth André da Rocha
- Berfran Rosado (deputado estadual pelo PPS-RS, ex-secretário de Yeda e candidato a seu vice)
- Carla Marcon Della Giustina
- Carlos Roberto Bondan e familiares (coronel da Brigada Militar, comandante do Comando de Policiamento Metropolitano)
- Cid Martins (jornalista, repórter da Rádio Gaúcha – Grupo RBS)
- Cristina Bolson Marchezan
- Edilson Paim (delegado da Polícia Civil–RS)
- Edis Ferreira dos Santos Cunha (promotor de Justiça)
- Estella Maris Simon (ex-presidente do Departamento Estadual de Trânsito-RS)
- Gisele Uequed (candidata à deputada estadual pelo PV-RS e filha do ex-deputado federal Jorge Uequed)
- Guilherme Pacífico (delegado da Polícia Civil–RS)
- Humberto Trezzi (jornalista, repórter do jornal Zero Hora – Grupo RBS)
- Jayme Sirotsky (presidente emérito do Grupo RBS)
- Jorge Uequed (ex-deputado federal pelo PMDB-RS)
- Magda Koenigkan (ex-mulher de Marcelo Cavalcante )
- Marcelo Cavalcante e familiares (ex-representante do governo gaúcho em Brasília, encontrado morto em fevereiro de 2009 no lago Paranoá, na Capital Federal. Supostamente se suicidou. Sua morte ainda não foi totalmente solucionada)
- Marcelo Sirotsky (família Sirotsky – Grupo RBS)
- Maria Olivia Girardello Sirotsky (família Sirotsky – Grupo RBS)
- Mateus Bandeira (presidente do Banrisul)
- Neldo Augusto Dobke Valadão (assessor jurídico do MP-RS)
- Nelson Marchezan Jr. (deputado estadual PSDB-RS, candidato a federal)
- Paulo Roberto Mendes (coronel da Brigada Militar, ex-comandante da instituição, e juiz militar indicado por Yeda Crusius)
- Ranolfo Vieira Junior (delegado titular do Departamento Estadual de Investigações Criminais da Polícia Civil-RS)
- Renato Gava (jornalista, repórter do jornal Diário Gaúcho – Grupo RBS)
- Ricardo Englert (secretário da Fazenda do RS)
- Simone Mariano da Rocha (procuradora-geral de Justiça do RS)
- Wianey Carlet (radialista da Rádio Gaúcha – Grupo RBS)
Abaixo, primeira lista, divulgada em 5 de setembro de 2010:- Adão Paiani (Ex-ouvidor da Secretaria da Segurança do RS)
- Ana Claudia Mazzali (capitã da Brigada Militar)
- Coronel Quevedo (Brigada Militar, ex-chefe da Casa Militar do governo Yeda; pediu afastamento na semana passada)
- Chefes do Serviço de Inteligência do Comando de Policiamento Metropolitano e do V COMAR (Quinto Comando Aéreo Regional)
- Claudio Manfroi (ex-presidente do PTB-RS)
- Eliseu Santos (ex-secretário da Saúde de Porto Alegre, assassinado no início do ano)
- Flávio Conrado (delegado da Polícia Civil)
- Flavio Koutzii (ex-deputado estadual do PT-RS)
- Heliomar Franco (delegado da Polícia Civil)
- Jefferson de Barros Jacques (major da Brigada Militar)
- Lair Ferst (empresário, uma das principais figuras do escândalo do Detran-RS, que deu origem à Operação Rodin)
- Luis Augusto Lara (deputado estadual do PTB-RS)
- Luis Carlos Busato (deputado federal do PTB-RS)
- Marco Aurélio Weisshmeimer (jornalista)
- Maria Lúcia Streck (jornalista)
- Nereu Lima (advogado)
- Roberto Sirotsky Gershenson (família Sirotsky – Grupo RBS)
- Políbio Braga (jornalista)
- Rafael Colling (jornalista)
- Ricardo Lied (ex-chefe de gabinete da governadora Yeda Crusius, um dos que pedia as consultas irregulares)
- Sandra Terra (assessora da governadora Yeda Crusius, uma das que pedia as consultas irregulares)
- Sérgio Zambiasi (senador do PTB-RS)
- Stela Farias (deputada estadual do PT-RS)
- Tania Regina Silva Reckziegel (presidente do PTB Mulher – RS)
- Tarso Genro (ex-ministro e candidato do PT ao governo do RS)
- Telma Cecília Torran
- Vanessa Guazzelli Braga
- Walna Vilarins Menezes (assessora da governadora Yeda Crusius, uma das que pedia as consultas irregulares)
- Yeda Rorato Crusius (governadora do RS)
O ex-presidente do TCE-RS foi acusado de participar da fraude que desviou R$ 44 milhões do Departamento Estadual de Trânsito, do RS. Após a acusação tirou férias (licença médica), para escrever a obra supracitada, em seguida obteve a aposentadoria integral do Tribunal. Com tanto tempo livre, ele ainda não lançou o livro. O que me deixa numa curiosidade enorme! No entanto, o ato assinado pela ex-governadora Yeda Crusius, do PSDB, assegurou ao ex-presidente do TCE-RS o salário integral de conselheiro de 22 MIL reais mais uma parcela completiva, cujo valor não foi informado. Interessante não?
Histórico do bandido escritor:
João Luiz Vargas, que chegou ao TCE-RS após exercer mandato de deputado estadual pelo PDT, ainda é réu em ação de improbidade administrativa por supostamente ter recebido dinheiro resultante do superfaturamento e do desvio de valores pagos por candidatos a motoristas do Rio Grande do Sul. Sua aposentadoria foi precedida por tentativas de sair do foco político após o Ministério Público Federal formalizar, em agosto de 2009, a acusação na Justiça Federal de Santa Maria.
Em setembro de 2009, quando o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou o bloqueio de seus bens, Vargas se afastou do TCE-RS com uma licença médica e, depois de sofrer pressão de outros conselheiros, renunciou à presidência do órgão.
Vargas figura como réu na mesma ação de improbidade movida pela Procuradoria contra Yeda. A tucana foi excluída do processo por decisão do Tribunal Regional Federal, que considerou a Assembleia Legislativa o foro adequado para que respondesse à acusação de crime de responsabilidade. Em outubro de 2009, a Assembleia arquivou o pedido de impeachment contra a governadora. Vargas ainda nega envolvimento com o desvio do Detran.
Resultado: A justiça é cega, surda e muda, tanto quanto os três macaquinhos... E pelo visto, uma gorda cega que carregamos na cacunda.
O Rio Grande do Sul chega ao número de 33 casas prisionais interditadas. O que representa 30% do total de presídios e albergues desse Estado que tem tudo, ou quase tudo para dar certo. Entretanto, sem gestão, projetos e uma boa dose de memória não dá. Vamos lá? Quem é o(a) responsável pela gestão dos presídios no RS? A Secretaria de Segurança Pública do Estado (SSP-RS), que também participa das ações estratégicas quanto as melhorias das casas prisionais.
De acordo com o site da SSP-RS, a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe) subordinada à Secretaria da Justiça e da Segurança (SJS), é o órgão estadual responsável pela execução administrativa das penas privativas de liberdade e das medidas de segurança. É esse órgão, que deveria apresentar projetos que destinem a verba concedida pelo governo federal e estadual. Ou seja, no final de fevereiro, a Susepe recebeu a bela notícia de que 50 milhões de reais da União deverão ser injetados, para quê? Ninguém sabe. Por que não há projetos. Observação válida: a confirmação da liberação da verba para o Estado veio na semana passada, quando o Ministério da Justiça aceitou o pedido de ratificação no contrato solicitado pelo governo gaúcho. Inicialmente, o dinheiro só seria liberado mediante a assinatura da ex-governadora do Estado, que se negou a firmar o convênio. (Mais uma da desgovernadora Yeda Rorato Crusius).
Vamos a questão da memória? A última interdição foi nessa quarta-feira (3), em que a juíza Sonáli da Cruz Zluhan proibiu o ingresso de novos presos do regime semiaberto na Penitenciária Industrial de Caxias do Sul. O principal motivo para as interdições é a superlotação, seguido da falta de estrutura nos presídios. Olha como é fresquinha essa memória. Isso foi ontem. Voltando um pouco mais no tempo. Em 2008, o presídio central de Porto Alegre ficou famoso nessa república de bananas, sendo considerado o mais superlotado cárcere do Brasil, na época, repito, na época com 4,8 MIL detentos. Atualmente, com 5.135 presidiários. Ou seja, opera com quase 5 vezes mais do que deveria. Lembrando que 48% dos hóspedes são de municípios do Estado que não tem presídios.
Vamos a mais um factóide. Sim, por que de utopia me bastam as teorias e promessas. Ainda de acordo com o site supracitado, e alinhado a Constituição do Rio Grande do Sul, a política penitenciária do Estado deve ter como objetivo a reeducação, a reintegração social e a ressocialização do preso, definindo como prioridades a regionalização e a municipalização dos estabelecimentos penitenciários, a manutenção de colônias penais agrícolas e industriais, a escolarização e profissionalização dos presos.
Não quero tecer aqui um ensinamento de como deve ser a política para presídios. Mas, sim, reportar a bagunça e falta de organização. Ainda seguindo a linha de raciocínio. Se o presídio central tem 5x a capacidade e obrigação perante a constituição de fazer tudo aquilo ali, vamos ser honestos. Não faz é nada. Mais essa bela notícia de um presídio interditado no RS... Convenhamos, temos três órgãos irresponsáveis e sem o mínimo de vergonha na cara, assim como a maioria dos infratores que estão cumprido suas penas. Um projeto sequer em três anos, não dá!
A juíza Simone Barbisan Fortes, da 3ª Vara da Justiça Federal de Santa Maria, acolheu a denúncia formulada pelo Ministério Público Federal (MPF), na época e anunciou a abertura de processo contra 40 dos 44 indiciados pela fraude que desviou essa grana do Detran-RS. Os acusados deveriam responder por peculato, dispensa indevida de licitação, corrupção ativa e passiva, assim como extorsão, falsidade ideológica e formação de quadrilha.
Quatro anos depois quais foram os desdobramentos? Os mesmos do Egito neste momento, mais nada foi dito! João Luiz Vargas, o finado Marcelo Cavalcante, Lair Ferst, Delson Martini, e cambadas a mais... Me forçam a recolocar um velho diálogo e quem sabe se eu encontrar um funk'zinho das antigas sobre os acontecimentos logo abaixo. (Espero encontrar neste entrevero de arquivos antigos...) *Não tarda!
(Foto ilustrativa. Sim, eu ví que é de São Paulo)
Em entrevista à EcoAgência, ambientalista Luiz Jacques Saldanha revela a prática do greenwashing e alerta contra os perigos à saúde a partir do uso de substâncias artificiais
Por Ilza Girardi – especial para a EcoAgência
No dia 24 de setembro foi inaugurada, no Pólo Petroquímico de Triunfo, a primeira fábrica de “plástico verde” do mundo. O evento contou com a presença do Presidente da República, ganhou holofotes na mídia e um espaço na novela Passione, da Rede Globo. Para falar sobre o assunto convidamos o engenheiro agrônomo, advogado e ambientalista Luiz Jacques Saldanha. Ele tem sido um crítico da geração, manufatura e uso indiscriminado e onipresente de substâncias artificiais que vão dos agrotóxicos, produtos de limpeza e de cuidado pessoal aos fármacos e plásticos em nosso dia-a-dia, destacando, principalmente, seus efeitos sobre a saúde de todos os seres vivos do planeta. Confira a seguir a entrevista concedida à jornalista do NEJ-RS, Ilza Girardi.
Ilza – Jacques, o que é o “plástico verde”? Será que ele resolverá todos os problemas que os plásticos têm causado em termos de poluição do ar, da água e da terra?
Jacques – Bem, este é o mais novo engodo que o sistema nos presenteia. E é um engodo da pior espécie porque está, pela primeira vez, fazendo um dos maiores greenwashing dos últimos tempos em nosso meio, no que se refere a resinas plásticas!
I – O que o greenwashing tem a ver com esse plástico?
J – É uma expressão empregada pelos ecologistas no mundo inteiro para desmascarar estas jogadas de marketing que as grandes poluidoras mundiais têm procurado fazer com a boa vontade e a boa fé dos cidadãos planetários. Na verdade, essa é uma forma de se relacionar com um termo semelhante como o que se emprega no mundo do crime. A mídia criou a expressão “lavagem do dinheiro” quando denuncia o que os criminosos tentam fazer para “limpar” um dinheiro de sua origem ilícita. Aqui é a mesma coisa. A diferença é que o crime aqui se relaciona com a questão ambiental e a saúde pública. E nesse caso, toda essa construção deste plástico ser “verde” demonstra a mesma maracutaia.
I – Mas e por que eles não são “verdes”?
J – Nem todas as pessoas sabem que o petróleo em si é um produto natural. Muitas pessoas acham que o próprio petróleo já é um problema. Mas não. O petróleo é um bem natural e biodegradável por ser metabolizável pelos seres vivos. Apesar de ter em sua composição de petróleo bruto a presença dos cancerígenos PAHs – aromáticos policíclicos. Assim é fundamental nos darmos conta de que é esse permanente jogo da desinformação que faz com que o sistema se mantenha vivo. E tem sido esse jogo que tem levado a muitos de nós, cidadãos comuns, nos sentirmos tão desamparados e impotentes que ficamos zonzos e faz com que nas situações da vida passamos a ser contra tudo ou aceitarmos tudo. Fazemos isso por absoluta falta de chão! Assim, quando afirmamos que eles não são verdes é porque o produto que eles vão produzir é exatamente igual ao outro! Sem tirar nem por! Tão poluidor e problemático como quaisquer dos outros plásticos que não são “verdes”.
I – Como assim?
J – Como disse antes, o petróleo é natural e por si só é biodegradável. O problema do petróleo não está nele mesmo, está em como a indústria petroquímica tem utilizado aquilo que lhe dá condições de fornecer a essência que mais lhe interessa: o carbono. O petróleo assim como outras fontes de carbono é o grande foco da indústria petroquímica. Ou seja, ela toma o carbono dessas fontes e daí para frente é que começa o seu grande drama. Esse elemento é utilizado para gerar substâncias que nunca existiram na vida da Terra. Essa artificialização do carbono nestas moléculas sintetizadas em laboratório é que vêm causando todo o drama dos últimos sessenta anos no planeta. E vão além das resinas plásticas aos venenos agrícolas, aos detergentes sintéticos, aos fármacos e a muitos outros. E todas essas moléculas são sintetizadas nos pólos petroquímicos. Pode-se ver essa pretensão na reportagem do Estadão de 25 de setembro último. Ali o executivo da corporação afirma que querem implantar essas fábricas por vários continentes (ver link).
I – Mas há pouco tempo, ocorreu o derramamento de petróleo no Golfo do México gerando poluição e problemas ambientais, impensáveis e incalculáveis, e que vão perdurar por muito tempo.
J – Sim, tu tens razão. Esse caso é dramático. Lembro das palavras do Lutzenberger que dizia que “poluição é a coisa certa no lugar errado”. E o petróleo do Golfo do México foi bem esse caso.
I – Mas voltando ao caso da Braskem e ao plástico “verde” …
J – Por isso é importantíssimo termos condições de entender um pouco mais tudo o que envolve o petróleo e a petroquímica. A começar por esta confusão geral em que mídia se mostra ignorante ou tendenciosa, demonstrando uma manipulação dos fatos quanto a esse “verde”. Ah! Inclusive foram tão fundo nesse processo que até alguns prédios foram pintados de verde como se vê em algumas fotos! Ficamos nos perguntando se esse pessoal não está sendo debochado ao
I – E por que eles podem fazer isso com esse respaldo político, social e técnico?
J – Essa pergunta eu também me faço e vejo como nós, da sociedade civil, estamos abandonados e vulneráveis a todo esse esquema que se forma em torno daqueles que têm o poder econômico. Temos que perceber que a Braskem está fazendo muita força para se tornar uma das grandes transnacionais da petroquímica do mundo emergente. E como nossa sociedade ainda é muito vassala do poder econômico, há uma posição de subserviência muito forte nelas quando ninguém se questiona de nada. E digo isso porque se olhares as notícias sobre este evento, verás que tudo está dito sem nada ter sido escamoteado.
I – De que maneira?
J – O aspecto técnico, por exemplo. Os próprios técnicos da Braskem afirmam que essa resina vai ser exatamente igual às outras e que ela não será biodegradável. Ou seja, não trará nenhum benefício “verde” no seu uso. Terá seu comportamento, quando no ambiente, igual às outras resinas. E isso vem sendo dito e redito em vários momentos, desde a notícia do lançamento da pedra fundamental em 2009. Então sob o aspecto “ecológico”, essa tecnologia é um absurdo porque está buscando produzir um absurdo.
I – Tecnologia absurda?
J – Tu sabes que o Rio Grande do Sul não produz cana, a não ser meia dúzia de pés para as vacas para épocas de falta de pasto. O nosso estado não produz uma gota de etanol para ser escolhida aqui a feitura dessa fábrica. Mas então por que fazer por aqui? Na minha visão isso pode ser até maquiavélico. O Rio Grande ainda desfruta no país, de uma aura de um estado com preocupações ecológicas e que o seu povo seria muito exigente etc. Assim, fazer lá nos estados onde a Braskem tem seus pólos, São Paulo e Bahia, não traria tanta “credibilidade” para este plástico “verde” como aí, no berço do ecologismo no Brasil. Podes perceber que terão que ser trazidos mais ou menos 400 milhões de litros de álcool, conforme informam os técnicos, para produzir essas 200 mil toneladas de plástico “verde”. Imagina o custo energético e ambiental de se trazer essa matéria prima do Paraná, São Paulo e Minas! Isso é ecológico? Assim, fazer isso e aqui no estado demonstra o seu absurdo até porque o plástico será igual ao outro!
I – Mas onde está então o “verde” dessa tecnologia?
J – Estaria justamente nesta fonte de carbono, a cana de açúcar! E é nisso que, no discurso tecnocrático, tornaria esse plástico “verde”. E dizem, inclusive com grande alarde, de que para cada tonelada de plástico produzido nesta fábrica, ocorreria o seqüestro de, mais ou menos, umas 2,5 toneladas de carbono. Assim para nós, os cidadãos comuns e desinformados, parece que será no processo de fabricação, nesta passagem do carbono do álcool para o carbono do plástico que ocorreria o grande seqüestro desse gás de efeito estufa. Mas não! A enganação é essa. Estão falando do processo de fotossíntese da cana em que para produzir o amido, a planta utiliza o gás carbônico e que não tem nada a ver com a fabricação da resina plástica. E se fores contar o desperdício de energia para o transporte desses milhões de litros, cairiam por terra quaisquer insinuações de que esse processo tecnológico teria algo de ecológico.
I – Certo. Parece que está claro que esse processo não tem nada de ecológico e nem esse plástico seria, no mínimo, um pouquinho “erverdeado”. Mas um aspecto que sempre tens levantado inclusive está fortemente presente em teu site (www.nossofuturoroubado.com.br), é a presença dos aditivos ou plastificantes. Como será que ficariam neste processo?
J – Exatamente igual. É importante termos idéia de como a empresa quer apresentar seu produto. Como essa resina é idêntica à outra, a indústria está pretendendo inclusive colocar um selo nas embalagens para identificá-la para o consumidor final. E pasma. Eles estão inclinados a colocar coisas como essa – olha só a ironia e o deboche: “I’m green”. Assim o consumidor final pensaria que estaria consumindo algo realmente que fosse dentro dos princípios ambientais e ecológicos por ter essa expressão. Não é um absurdo!? Conseqüentemente, como ninguém fala no Brasil sobre os esses “adereços” dos aditivos – como o nonilfenol (proibido na Comunidade Européia), o ftalato, o bisfenol A (banido das mamadeiras no Canadá e em vários estados e cidades norte-americanas) dentre tantos outros – estariam completamente adequados para serem utilizados em quaisquer das resinas plásticas para que pudessem ter competitividade de mercado.
I – Levantaste um aspecto muito pouco falado e assumido no nosso país. A questão desses aditivos como o bisfenol A que nem se fala quanto mais haver qualquer discussão sobre sua nocividade. O que me dizes disso?
J – É assim como levantas. O bisfenol A hoje é o grande ícone da luta da cidadania informada e consciente na busca de eliminar esses aditivos que estão completamente escondidos no âmago dessas resinas plásticas. Isso porque nem se menciona e nem se cita na composição dos produtos. O bisfenol A, também conhecido no mundo pela sigla BPA, é o DDT do século XXI. Vale lembrar que o DDT foi identificado, nos anos sessenta, como o grande vilão dos venenos que transitavam da agricultura para nossa casa como inseticida, e que acabou permitindo que se desvelasse e se descortinasse todo o horror das moléculas sintéticas que vêm envenenando, ainda hoje, o nosso alimento de cada dia. Pois bem, o BPA também está abrindo essa porteira e parece que será através dele que se verá todo o horror que temos em nossos produtos do dia-a-dia e que estão inviabilizando a sobrevivência de todos os machos no planeta, incluindo os seres humanos.
I – Mas como disseste antes, porque tu achas que a nocividade dessas substâncias não está sendo reconhecida pelos órgãos encarregados de zelar pela saúde das pessoas no Brasil?
J – Acho que muitos são os fatores, mas alguns deles chamam a atenção. Começa com a ineficácia e a inoperância dos técnicos da Anvisa. Se existe toda essa pesquisa independente e que demonstra que esses aditivos estão comprometendo a saúde dos fetos e das crianças, por que não colocam sob suspeita todos eles como estão fazendo os países do primeiro mundo? Será que vamos continuar vivendo como temos vivido com os agrotóxicos que são banidos e proibidos em vários países do mundo e aqui continuam a ser usados livremente? Assim, só posso concluir que a visão de mundo desses técnicos tanto da saúde como do meio ambiente no Brasil, estão totalmente alinhados e comprometidos com a mesma visão dos técnicos e das direções das indústrias. Temos casos bem contundentes no Brasil com os trabalhos que a Fundação Osvaldo Cruz do Ministério da Saúde têm feito tanto sobre alguns desses aditivos como com os agrotóxicos. E aí vem a pergunta: por que os técnicos do governo federal que tratam desses temas, não “lêem”, não “ouvem”, não “conhecem” esses trabalhos dessas instituições públicas? Por que será que continuam a considerar as pesquisas, as respostas, os estudos financiados e apoiados pelas indústrias como os únicos que “poderiam” desfrutar de credibilidade? Acho que com essas minhas considerações e perguntas, a resposta está dada, não te parece?
I – Tu tens mostrado um documentário da tevê canadense de 2008 em que se mostra que esses mesmos aditivos e plastificantes que estão nas resinas plásticas das embalagens, também estão presentes nos produtos de beleza, como maquiagens, bloqueadores solares, batons e outros?
J – Sim. Existem vários sites europeus e norte-americanos que mostram a loucura que tem sido o emprego dessas moléculas em produtos como esses que mencionaste. Tenho no site que criei (www.nossofuturoroubado.com.br) uma série de artigos traduzidos daqueles sites e ONGs em que se vê as respostas científicas que mostram que essas moléculas deveriam ser eliminadas imediatamente. Não consigo entender como o dinheiro está tão acima da saúde de todas as crianças e nenês que ainda nem nasceram. Parece que só nós que estamos nesta busca, temos filhos, netos e descendentes. Parece que os “técnicos” que têm essa outra visão de mundo, sejam das indústrias ou dos organismos governamentais responsáveis pela regulamentação dessas substâncias, são os últimos seres vivos do planeta e que não têm nenhum compromisso com o futuro.
I – Eu quero que expliques mais um pouco, essas afirmativas que fizeste com relação a essas moléculas e a sobrevivência das “crianças e nenês que ainda nem nasceram” como disse antes.
J – Bem, o que vem se descobrindo, reafirmo e insisto, científica e completamente embasada, em pesquisas, testes, estudos e análises, nos últimos 20 anos, oriundos de universidades, de mestres e doutores formados nos mesmos moldes dos “técnicos” das indústrias, é a capacidade que essas moléculas, friso, artificiais têm de imitar o comportamento do hormônio feminino. E isso tem aberto uma nova percepção sobre a importância crucial de níveis, absolutamente adequados e compatíveis, de hormônios sexuais tanto do hormônio masculino testosterona como dos femininos estrogênios, na formação e na saúde dos nenês que estão sendo gestados no útero materno. Essas descobertas que agora não podem ser mais ignoradas nem negligenciadas por estarmos sem dúvida comprometendo a sobrevivência de todos os seres vivos, machos e fêmeas, neste planeta. E é só por isso que sou visceralmente contra quaisquer moléculas que sejam artificiais e por isso totalmente desconhecidas pela Vida. Estejam ou sejam elas resinas plásticas, fármacos, agrotóxicos, produtos domissanitários, cosméticos, tecidos, produtos de higiene e de limpeza, roupas, partes de utensílios como automóveis, computadores, aviões etc, etc, etc.
I – Então achas que o mundo moderno está sendo um grande erro?
J – Desta forma, sim. E essa minha percepção está fundada naquilo que acho que tem sido o nosso grande equívoco: substituir tudo o que é e era natural por tudo o que é definitivamente artificial. Mas, temos que nos dar conta que estamos num país onde dispomos de todas as moléculas naturais e que são elas que a química artificial tem tentado substituir pelas feitas em laboratórios. E dramaticamente, em vez de investirmos nossos recursos financeiros no sentido de aprimorar, adaptar e adequar essas moléculas que a Vida nos deu para sermos seus guardiões, optamos por ficar “aprimorando”, “adaptando” e “adequando” essas que estão levando à destruição da vida.
I – Por que falaste agora em investimento? Sabes como foram os investimentos dessa fábrica?
J – Sim. Isso está disponível para o conhecimento de todos. Conforme textualmente “o Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias Petroquímicas de Triunfo (SINDIPOLO), dos cerca de R$ 450 milhões para a construção da Planta Verde da Braskem, 70% são do BNDES que é dinheiro do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador). Dos 30% restantes, 40% é da Petrobras.” (ver link) Acho que com esses dados mostram como se misturam os investimentos “privados” e a importância dada à saúde pública dos brasileiros. Eu espero que as pessoas, ao obterem essas informações, façam a opção sobre qual trilha elas querem seguir.
I – Novamente, agradeço em nome de outros ecojornalistas, tua contribuição por desvelares mais essa desinformação que está circulando em nosso meio.
EcoAgência