Para efetuar a leitura semiótica contextualizada ao conceito supracitado, faz-se necessária a leitura da poesia e a ciência e noção dos mitos de Barthes. Como “a vacina”, que visa expor apenas uma face de uma instituição de classe, para ocultar a inerência do seu mal. Ou seja, utiliza a economia de balança, como plataforma de sustentação para compensação; “A omissão da história” atua surrupiando, através do discurso do mito sobre um objeto. Trata-se da “irresponsabilidade do homem”, quando se refere à ausência do questionamento da origem do objeto;
Já “A identificação” observa apenas a semelhança de características, como dizer que “o outro só existe quando concorda comigo”. Acaba-se por transformar esse “outro”, em puro objeto, um espetáculo ou, até mesmo, uma marionete; “A tautologia” é uma redundância como subir para cima, ou trata o mesmo pelo mesmo. Pode ser considerado um “hideout” por observar um mundo imóvel;
Barthes denomina “Ninismo”, como uma figura mitológica que versa sobre dois contrários e equilibra-os, um com o outro, de forma a rejeitá-los. Por exemplo, “não quero nem isto nem aquilo”; “A quantificação da qualidade” admite o pré-estabelecimento na produção, um circuito de compensação, que observa a arte dramática no quão seu bolso pode se rechear; Já a “constatação” pode ser tratada como um axioma, “todos os nossos provérbios populares representam mais uma fala ativa, que pouco a pouco se solidificou em uma fala reflexiva, mas de uma reflexão de mídia, reduzida a uma constatação, e, de algum modo, tímida, ligada o máximo possível ao empirismo. (Barthes, Rolanda. Mitologias. 2003, p. 247).
A poesia de Anjos é repleta de mitos, visto também, a importância da contribuição de sua dramática história literária e de vida. O mito da quantificação da qualidade, a identificação, a omissão da história, a vacina e a constatação são coligados já no primeiro verso pela forma de expressão utilizada pelo autor para contextualizar a dramaticidade por ele criada.
“Vês!/ Ninguém assistiu ao formidável/ Enterro de tua última quimera/ Somente a Ingratidão - esta pantera -/ Foi tua companheira inseparável!” //
(ANJOS, Augusto. 1998 pág. 85)
Anjos, em sua poesia, demonstra asco para com a sociedade e a forma com que as pessoas se interagem, uma maneira de criticar e insuflar que todos irão para o mesmo lugar independente do que façam ou almejem, não elucidando, mas sim, expondo de forma aberrante para a época, as mais diferentes formas de interação entre as pessoas. De acordo com Barthes e seus conceitos de categoria, podemos entender que a forma de linguagem, digo, língua/fala, utilizada pelo autor é desmistificada pelos mitos que a constituem em inúmeros aspectos de uma realidade constantemente mascarada, sendo assim um aparelho de interesses ideológicos.
Podemos ponderar o prisma mitológico barthesiano, visto que "o mito não se define pelo objeto de sua mensagem, mas pela maneira como a profere" [Roland Barthes. Mitologias, p. 131]. Na categoria, pode-se descobrir uma forma tridimensional constituída por significante, significado e signo [De acordo com Barthes, "(...) para Saussure, que trabalhou com um sistema semiológico específico, mas metodologicamente exemplar – a língua – o significado é o conceito, o significante é a imagem acústica (de ordem psíquica), e a relação entre o conceito e a imagem é o signo (a palavra, por exemplo), entidade concreta." (1985, p. 135). Entretanto, a característica do mito é o aproveito deste sistema semiológico já constituído para edificar sua própria cadeia semiológica.
3. CONCLUSÃO
Por conseguinte, com os conceitos de Barthes é possível enxergar o que se passa, ou se passou na poesia de Anjos. Em seu contexto, por suas categorias explícitas na poesia é possível saber os seus porquês, detalhes e a exatidão dos espetáculos apresentados nos palcos do passado e presente. Barthes possibilita em seus mitos uma análise que demonstra a construção de algo, entretanto com um interesse por de trás, uma manifestação de interesse mascarada.
4. REFERÊNCIAS
BARTHES, Roland. Mitologias, 2003 pág. 247.
ANJOS, Augusto. Eu, e outras poesias, 1998 pág. 85 e 86.
Conteúdo de aula.