Versos Íntimos calcado em Barthes

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Versos Íntimos
Vês! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão - esta pantera -
Foi tua companheira inseparável!
Acostuma-te à lama que te espera!
O homem, que, nesta terra miserável,
Mora entre feras, sente inevitável
Necessidade de também ser fera.
Toma um fósforo.
Acende teu cigarro!
O beijo, amigo, é a véspera do escarro,
A mão que afaga é a mesma que apedreja.
Se a alguém causa inda pena a tua chaga,
Apedreja essa mão vil que te afaga,
Escarra nessa boca que te beija!
ANJOS, Augusto. Eu e outras poesias. Porto Alegre: L&PM, 1998

1 INTRODUÇÃO

Esta análise visa uma leitura semiótica de “Versos Íntimos”, poesia de Augusto dos Anjos, entretanto calcada no conceito de sete tipos de mito de Roland Barthes.

2. DESENVOLVIMENTO

Para efetuar a leitura semiótica contextualizada ao conceito supracitado, faz-se necessária a leitura da poesia e a ciência e noção dos mitos de Barthes. Como “a vacina”, que visa expor apenas uma face de uma instituição de classe, para ocultar a inerência do seu mal. Ou seja, utiliza a economia de balança, como plataforma de sustentação para compensação; “A omissão da história” atua surrupiando, através do discurso do mito sobre um objeto. Trata-se da “irresponsabilidade do homem”, quando se refere à ausência do questionamento da origem do objeto;

Já “A identificação” observa apenas a semelhança de características, como dizer que “o outro só existe quando concorda comigo”. Acaba-se por transformar esse “outro”, em puro objeto, um espetáculo ou, até mesmo, uma marionete; “A tautologia” é uma redundância como subir para cima, ou trata o mesmo pelo mesmo. Pode ser considerado um “hideout” por observar um mundo imóvel;

Barthes denomina “Ninismo”, como uma figura mitológica que versa sobre dois contrários e equilibra-os, um com o outro, de forma a rejeitá-los. Por exemplo, “não quero nem isto nem aquilo”; “A quantificação da qualidade” admite o pré-estabelecimento na produção, um circuito de compensação, que observa a arte dramática no quão seu bolso pode se rechear; Já a “constatação” pode ser tratada como um axioma, “todos os nossos provérbios populares representam mais uma fala ativa, que pouco a pouco se solidificou em uma fala reflexiva, mas de uma reflexão de mídia, reduzida a uma constatação, e, de algum modo, tímida, ligada o máximo possível ao empirismo. (Barthes, Rolanda. Mitologias. 2003, p. 247).

A poesia de Anjos é repleta de mitos, visto também, a importância da contribuição de sua dramática história literária e de vida. O mito da quantificação da qualidade, a identificação, a omissão da história, a vacina e a constatação são coligados já no primeiro verso pela forma de expressão utilizada pelo autor para contextualizar a dramaticidade por ele criada.

“Vês!/ Ninguém assistiu ao formidável/ Enterro de tua última quimera/ Somente a Ingratidão - esta pantera -/ Foi tua companheira inseparável!” //
(ANJOS, Augusto. 1998 pág. 85)

Anjos, em sua poesia, demonstra asco para com a sociedade e a forma com que as pessoas se interagem, uma maneira de criticar e insuflar que todos irão para o mesmo lugar independente do que façam ou almejem, não elucidando, mas sim, expondo de forma aberrante para a época, as mais diferentes formas de interação entre as pessoas. De acordo com Barthes e seus conceitos de categoria, podemos entender que a forma de linguagem, digo, língua/fala, utilizada pelo autor é desmistificada pelos mitos que a constituem em inúmeros aspectos de uma realidade constantemente mascarada, sendo assim um aparelho de interesses ideológicos.

Podemos ponderar o prisma mitológico barthesiano, visto que "o mito não se define pelo objeto de sua mensagem, mas pela maneira como a profere" [Roland Barthes. Mitologias, p. 131]. Na categoria, pode-se descobrir uma forma tridimensional constituída por significante, significado e signo [De acordo com Barthes, "(...) para Saussure, que trabalhou com um sistema semiológico específico, mas metodologicamente exemplar – a língua – o significado é o conceito, o significante é a imagem acústica (de ordem psíquica), e a relação entre o conceito e a imagem é o signo (a palavra, por exemplo), entidade concreta." (1985, p. 135). Entretanto, a característica do mito é o aproveito deste sistema semiológico já constituído para edificar sua própria cadeia semiológica.

3. CONCLUSÃO

Por conseguinte, com os conceitos de Barthes é possível enxergar o que se passa, ou se passou na poesia de Anjos. Em seu contexto, por suas categorias explícitas na poesia é possível saber os seus porquês, detalhes e a exatidão dos espetáculos apresentados nos palcos do passado e presente. Barthes possibilita em seus mitos uma análise que demonstra a construção de algo, entretanto com um interesse por de trás, uma manifestação de interesse mascarada.

4. REFERÊNCIAS

BARTHES, Roland. Mitologias, 2003 pág. 247.
ANJOS, Augusto. Eu, e outras poesias, 1998 pág. 85 e 86.
Conteúdo de aula.

0 comentários:

 
Compasso Político