‘Movimento erra quando se coloca como um partido político’

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Vinte dias se passaram desde que surgiram as primeiras manifestações populares contra a situação política e econômica na Espanha. O movimento “Democracia Real Já” ganhou força, se espalhou por diversas cidades do país e inspirou protestos semelhantes em outras regiões da Europa. As manifestações se seguiram mesmo após as eleições regionais na Espanha, há quase duas semanas, que escancarou a rejeição às medidas anti-crise tomadas pelo Partido Socialista, do primeiro-ministro José Luis Zapatero, e pavimentou o caminho do conservador Partido Popular rumo às eleições gerais, marcadas para o ano que vem.


No dia seguinte ao pleito, manifestantes seguiram nas praças – a maior delas a Porta do Sol, em Madri – mas as preocupações nos acampamentos passavam longe do resultado das urnas. Em vez disso, as comissões formadas para viabilizar a mobilização se ocupavam com discussões que percorriam assuntos como “feminismo”, “mídia” e a própria manutenção dos protestos.


A sobrevivência do movimento, dias após as eleições, demonstra que as reivindicações não se limitam às mudanças de representantes, confirmadas pelas urnas, mas do próprio modelo de representação espanhol. O desafio agora é fazer com que o movimento mantenha os questionamentos sobre a situação social na Espanha sem que se confunda com os papéis desempenhados pelos próprios alvos dos manifestantes: os partidos políticos.


O risco, de acordo com Ferran Requejo Coll, doutor em Filosofia e professor de Ciências Políticas da Universidade Pompeu Fabra, em Barcelona, é alto. Autor do livro “As Democracias”, resultado de pesquisa sobre as teorias da democracia, do liberalismo político e do federalismo, Coll afirma, em entrevista a CartaCapital, que os líderes do protesto erram quando assumem para si a responsabilidade de buscar soluções para a crise porque “não sabem como fazê-las”. É direto ao afirmar que a força e representatividade dos manifestantes – “não chegam a 100 mil pessoas em toda a Espanha” – são relativas e que eles são ingênuos por pensar ser viável a implementação de uma democracia de fato participativa, baseada em referendos e decisões coletivas.


“A democracia real, se implantássemos o ‘fazer o que o povo quer’, seria um desastre”, sentencia o analista, para quem a mobilização corre o risco de perder a legitimidade ao tentar fazer com que saiam dos acampamentos projetos de interesse nacional. “Quem decide o que é importante ou não? O movimento erra quando se coloca como um partido político”.


O especialista vê ainda “baixo preparo intelectual” nas contradições criadas pelo movimento, que, no entanto, tem como principal mérito “canalizar e expressar um mal estar social”.


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